Depois de ano aquecido, Selic pode afetar mercado imobiliário em 2022

Medida adotada pelo Banco Central para controlar a inflação desestimula a concretização de novos financiamentos

O mercado imobiliário viveu momentos de recuperação no último ano. A retomada de atividades, como as aulas presenciais, reativou a necessidade de busca por espaços, tanto para aquisição quanto para locação. Os resultados foram tão expressivos que o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR) apontou como o melhor ano para o setor no Brasil.

Houve um avanço de 55% nos financiamentos – de R$ 175 bilhões para R$ 271 bilhões. Em novas unidades, foram 1,259 milhão de habitações financiadas. Para 2022, o aumento da inflação, registrando o dobro do que havia sido determinado como ideal – apontou 10% –, fez com que o Banco Central voltasse a aumentar a taxa Selic, com o consequente encarecimento dos financiamentos, o que pode frear o desempenho na negociação de imóveis.

Corretor de imóveis e presidente da Sociedade das Empresas Imobiliárias de Santa Cruz do Sul (Seisc) até o fim do ano passado, Flávio Bender destaca que Santa Cruz refletiu o aquecimento do setor percebido no Estado e em todo o Brasil. “Vimos uma melhora significativa nas vendas em comparação com 2020. Sem dúvida, as taxas baixas de juros e as opções de financiamentos tiveram grande parcela nessa considerável melhora”, aponta a assessoria do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais no Rio Grande do Sul (Secovi/RS). Acrescenta que as locações também tiveram reação positiva.

E se 2021 foi muito favorável às negociações, o ano atual requer cautela e boa pesquisa. O Secovi orienta que investidores com capital para aquisição à vista devem aproveitar o momento, porque os preços estão estáveis, sem registro de aumento em relação ao ano anterior. Porém, quem pretende financiar deve fazer o mais brevemente possível, porque a expectativa é de que ocorram ainda mais elevações na Selic ao longo do ano, encarecendo o custo do crédito.

Queda da inflação, mas com desestímulo a novos negócios

A economista Cintia Agostini explica por que vai ficar mais caro financiar. Ela conta que a medida mais ágil para o Banco Central controlar a inflação é o aumento da taxa de juros. Isso porque desestimula a economia, tornando o dinheiro mais caro. “Assim, temos menos recursos circulando, o que faz com que os preços voltem a patamares menores e a inflação se reduza. Só que isso também faz com que não se tenham novos investimentos e interfere na geração de empregos”, descreve.

Como consequência, ao tentar fazer um financiamento imobiliário, a tendência é de que esteja com valor mais elevado, dificultando a efetivação do negócio, porque a renda do consumidor não teve elevação compatível com a inflação e as taxas de juros. Além dos novos contratos, Cintia alerta que muitos que já foram efetivados são vinculados direta ou indiretamente à Selic, o que faz com que tenham alterações significativas. “Se o contrato tiver vínculo com a taxa Selic, vai ter influência direta. Indiretamente, pode ser que a taxa que é praticada tenha algum tipo de vínculo. O que é taxa fixa não muda. A maioria deles, no entanto, tem taxas variáveis vinculadas a esse movimento financeiro”, explica. Enfatiza que não é um bom momento para pegar dinheiro emprestado.

O que 2022 promete para os negócios no setor imobiliário

Flávio Bender acredita na continuação das negociações, porém com um pouco menos de intensidade. “O grande concorrente do mercado imobiliário, principalmente dos investidores, é a alta da taxa Selic”, justifica. Entende, no entanto, que por se tratar de ano eleitoral, que acaba gerando incertezas e especulações, pode beneficiar o mercado imobiliário. “Dá uma maior segurança para as pessoas, pois como fala o ditado, ‘quem compra terra não erra’. Isso continua muito forte e verdadeiro”, acrescenta.

O Secovi, por seu lado, vê em 2022 estabilidade com viés de queda, justamente pela elevação da Selic. “Nas locações, as perspectivas estavam sendo mais promissoras, pela melhora da pandemia. Muitos estudantes que migraram para a casa dos familiares no auge da pandemia vinham buscando moradias próximas de onde estudam”, ressalta a assessoria.

Apesar de perspectivas não muito positivas, Bender frisa que o período de comprar imóvel deve ser o da necessidade da pessoa, no caso de quem deseja ter um local para morar. “No caso dos investidores, todo momento é de compra, se tivermos oportunidades de negócios bons, tais como investimento com retorno de locação, ofertas em lançamentos imobiliários com preços mais atraentes para uma futura valorização e venda com lucro”, orienta. O Secovi acrescenta que o índice de inadimplência nos aluguéis é um ponto positivo para quem pensa em investir, ficando em 3%. “Assim como a alimentação, a moradia é um item essencial, já que as pessoas precisam de um local para morar”.

Fonte: Gaz.com.br