Preço de imóveis novos deve subir com o reajuste de materiais de construção e mão de obra

Aquecimento do mercado imobiliário vem encarecendo insumos e elevando os salários dos trabalhadores do setor

Quem for adquirir a casa nova, vai encontrar preços crescentes nos próximos meses, na medida em que os custos estão pressionando as margens das construtoras. E o imóvel se valoriza já que as vendas estão aquecidas — disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia.

Os materiais de construção tiveram reajuste de 5,48% nos últimos 12 meses até setembro. Há um ano, o percentual era de 3,21%. Já o custo da mão de obra subiu 7,7% no mesmo período, enquanto a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,42% em 12 meses até setembro.

De acordo com um relatório do banco de investimentos Itaú BBA, o aumento gradual dos preços dos materiais de construção pode impactar principalmente as companhias que constroem para clientes de baixa renda, dentro do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) — que responde por quase 50% das vendas de imóveis novos.

Cotação de commodities

Um dos problemas, segundo os analistas do Itaú, é que os custos seguem crescendo mesmo após as construtoras fixarem seus preços de venda. Isso ocorre, em parte, porque boa parte dos preços dos materiais segue as cotações internacionais do minério de ferro, do alumínio e do aço.

Como as cotações são em dólar, o custo sobe sempre que a taxa de câmbio avança, explicou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

A CBIC melhorou a projeção de crescimento da construção civil para 3,5% em 2024, frente aos 2,3% estimados no início do ano, o que puxa a demanda pelos insumos. A projeção de vendas de material de construção para 2024 saltou de uma alta de 3% para 4,5%, segundo levantamento da FGV feito para a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

Na visão de Rodrigo Navarro, presidente da Abramat, a construção imobiliária vem puxando as vendas, mas a retomada de obras públicas paralisadas, novos projetos de infraestrutura incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a reconstrução do Rio Grande Sul após as enchentes de maio também estão impactando positivamente o setor. Na contramão, no varejo, a recuperação está lenta, ponderou Navarro.

Conforme Adriano Andrade, diretor comercial da Docol, fabricante de metais sanitários, as vendas da empresa têm crescido cerca de três vezes mais do que a média do mercado. O executivo confirmou a tendência de aumento de preços: os produtos de metal já encareceram este ano e haverá mais reajustes no início de 2025.

A Tigre, fabricante de tubos e conexões, investe anualmente R$ 200 milhões para elevar a produção. As vendas são puxadas pelo setor imobiliário, mas também pelo avanço dos projetos de saneamento, informou a empresa.

Na América Latina, as vendas da Saint-Gobain — das marcas Quartzolit, Brasilit, Telhanorte e Placo — cresceram 3,7% no terceiro trimestre, com destaque para o Brasil. A multinacional francesa colocou em operação uma nova linha de produção de drywall da Placo, em Mogi das Cruzes (SP), no primeiro semestre.

Falta pessoal qualificado

No lado da mão de obra, a inflação deverá permanecer elevada, na casa de 7%, segundo o relatório do Itaú. Além do custo, empresários do setor se preocupam com a falta de pessoal qualificado.

— A falta de mão de obra, na sondagem com os empresários, é a principal questão neste contexto mais aquecido do setor. As empresas têm aumentado a remuneração para atrair mais pessoas — disse Ana Maria, do FGV Ibre.

Segundo David Fratel, coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos (GTRH) do Sinduscon/SP, os salários nos postos formais da construção civil estão em R$ 3.661 por mês, enquanto a indústria paga R$ 3.571 mensais.

Nas obras pagam por produtividade, o valor tem chegado a R$ 7,5 mil mensais. Um dos problemas é que o trabalhador do setor envelheceu, com uma média de idade de 41 anos atualmente, disse Fratel:

— O desafio é atrair o jovem trazendo inovação ao canteiro de obras, como uso de robotização, digitalização, além de oferecer cursos profissionalizantes qualificando pedreiros, carpinteiros, montadores de drywall.

Fonte: O Globo