Com auxílio, FGTS e recuperação de alguns setores, economia do CE deve ganhar tração no 2º semestre
Apesar do cenário espinhoso, economistas e representantes da indústria e construção civil veem um horizonte de recuperação para o Estado nos próximos meses, em comparação com a primeira metade do ano
O avanço da reabertura gradual das atividades econômicas combinado à liberação de benefícios como o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e mais duas parcelas do auxílio emergencial do Governo Federal devem conduzir a economia cearense a um patamar bem menos nebuloso no segundo semestre deste ano, em relação à primeira metade de 2020.
O conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Lauro Chaves, explica que o Ceará historicamente lida com uma baixa renda per capita. Por esta razão, o impacto desses benefícios é fortemente sentido no Estado e é o que deve levar o Produto Interno Bruto (PIB) cearense a apresentar uma queda menor em 2020 ante a média nacional. “Como nós temos no Ceará uma desigualdade muito grave, tanto o auxílio emergencial como os saques do FGTS representam uma recomposição quase integral. Para muitas famílias em vulnerabilidade, o recurso é mais do que a renda que eles tinham antes da pandemia. Isso ameniza muito a queda da economia cearense”, diz.
Para ele, esses benefícios do Governo Federal se unem a iniciativas no âmbito estadual e municipal. “O auxílio emergencial e a liberação de auxílios como nas contas de energia elétrica e o fornecimento de gás de cozinha para a população, por exemplo, somados, fazem com que uma das parcelas mais vulneráveis da população cearense obtenham essa recomposição de renda”.
Entretanto, ele pontua que na comparação com o segundo semestre de 2019, a queda da economia será drástica. “Se compararmos o segundo semestre deste ano com igual período de 2019, teremos uma queda dramática”, destaca Lauro Chaves.
O economista e consultor empresarial José Maria Porto também acredita em uma economia mais pujante no segundo semestre na comparação com o primeiro, ancorada também nos efeitos dos benefícios sociais e em decisões como o plano de medidas tributárias para ajudar as empresas cearenses afetadas pela crise. “Estamos na segunda fase da reabertura econômica e acredito que caminharemos para a terceira fase. O comércio está retomando a sua atividade e havia uma demanda reprimida. O cearense é um povo sociável, então a dinâmica naturalmente vai retomando”.
Ele lembra, entretanto, que o Estado possui forte vocação turística e que essa atividade foi uma das mais afetadas, mas revela otimismo em relação à estratégia de fortalecimento do turismo doméstico como alternativa para o setor. “Ainda não teremos aquele fluxo na rede hoteleira, mas deve haver uma demanda local”, avalia Porto. O economista frisa ainda que a transposição do Rio São Francisco deve conferir um fôlego à agropecuária, que deve ganhar uma nova dinâmica no Estado. “Acho que a gente já pode começar a ter um reflexo da transposição”, diz.
Otimismo moderado
Na indústria cearense, a expectativa é que a atividade no segundo semestre, de fato, seja mais aquecida na comparação com o primeiro semestre deste ano. O presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, também pontua, porém, que ante o segundo semestre de 2019, a indústria deverá apresentar queda substancial. “O retorno do nível de produção e venda da indústria cearense para os níveis anteriores à pandemia deverá levar de 12 a 24 meses”, detalha.
Ricardo Cavalcante afirma que a chegada efetiva do crédito ao caixa das indústrias é o principal gargalo no curto prazo. “Já no médio prazo, é necessário que seja retomada a agenda de reformas estruturais e a melhoria no ambiente de negócios, eixos fundamentais para a melhoria da produtividade”, detalha.
O presidente da Fiec também avalia que existe um comportamento difuso entre os ramos da indústria. No segmento da construção civil, por exemplo, alguns fatores indicam que o segundo semestre será positivo, com destaque para a taxa de juros em patamar baixo, impulsionando o financiamento imobiliário. De acordo com o presidente do Sindicato da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, a projeção de queda nos lançamentos imobiliários será revista.
“As taxas de juros são as menores da história. Quando isso ocorre, uma parcela de famílias que não se inseriam na possibilidade de aquisição da casa própria passam a ter essa chance, então a gente acredita que os números serão melhores em relação ao que a gente tinha previsto na pandemia. Logicamente, desde que a economia se mantenha melhorando, sem uma segunda onda do coronavírus”, diz.
No início deste ano, a expectativa do Sinduscon-CE era de que os lançamentos imobiliários no Estado alcançariam R$ 2 bilhões em 2020. Na pandemia, a projeção foi revisada para R$ 1 bilhão.
Mercado de trabalho
Apesar da visão otimista, José Maria Porto pondera que o mercado ainda deve levar um tempo para se recuperar. “O número de desempregados ainda vai ser grande. Quando se tem um exército enorme de desempregos, evidentemente o nível salarial cai. O poder aquisitivo dessa população é reduzido, apesar de estarmos com uma inflação em baixa”. Outra preocupação dele é em relação à capacidade de as empresas arcarem com empréstimos feitos durante a pandemia e de retomar o pagamento de impostos adiados.
No fim do mês passado, o Governo do Estado anunciou, entre outras medidas tributárias para aliviar o caixa das empresas, o parcelamento do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Na ocasião, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, a secretária da Fazenda do Ceará, Fernanda Pacobahyba, disse que a expectativa é que a retomada da arrecadação ocorra em meados de outubro deste ano. Em maio, a arrecadação total nominal do Estado caiu 45,2% ante igual período de 2019, chegando a R$ 1,29 bilhão.