Construção entra em novo ciclo e ganhará outros protagonistas

Lacuna deixada por grandes empreiteiras vira possibilidade de crescimento para incorporadoras de médio porte; capital de grupos estrangeiros e fusões vão facilitar o processo.

O Brasil deve presenciar nos próximos 10 anos o surgimento de novos protagonistas no mercado de construção.

A expectativa é que o vácuo deixado pelas grandes empreiteiras envolvidas em problemas, e o próximo ciclo de investimento em infraestrutura, criem um movimento de consolidação de empresas de médio porte que resulte em um novo capitulo da história do setor.

“As grandes atuavam em outros setores também, mas não era o foco do negócio. Sempre miraram muito em infraestrutura”, diz o líder de Transações da Grant Thornton, Paulo Funchal.

Para que as médias consigam aproveitar estas oportunidades, no entanto, é necessário que ganhem musculatura e consigam ter condições financeiras e estruturais para fazer frente aos desembolsos necessários para obras de grande magnitude, como as incluídas no Programa de Parcerias para Investimentos (PPI) e nos projetos de Parceria público-privada (PPPs) municipais e estaduais.

Por isso, o executivo acredita que uma possível tendência é que o setor passe por um processo de consolidação provocado pela junção de empresas pequenas e médias do mesmo segmento ou de nichos complementares.

Ou até pela aquisição das empresas estrangeiras de engenharia que devem buscar parceiros locais para conseguir entrar no país ou até ampliar as operações existentes para executar as obras que o Brasil receberá nos próximos anos.

“Isso pode ser uma oportunidade para as médias, mas ela deve estar preparada. Precisa estar saudável, ter governança e ter um porte interessante”, destaca.

Entre as empresas que devem ter uma maior participação neste movimento estão as de médio porte com faturamento anual entre R$ 60 milhões e R$ 300 milhões.

A perspectiva é que as oportunidades de grande porte comecem a aparecer no segundo semestre de 2018, quando os consórcios ganhadores de licitações feitas em 2017 comecem a contratar empresas de engenharia para realizar os projetos.

Capital externo

Para ele, entre os principais players estrangeiros estão os chineses – que tem exemplos como o da CCCC com a Concremat –, além dos países ibéricos.

Hoje, no Brasil, grandes construtoras portuguesas já atuam no país e, para o especialista, faria sentido se alguma decidisse aumentar a presença por aqui, uma vez que já possuem conhecimento de mercado e o vácuo deixado pelas grandes está posto.

“Algumas empresas, devido à retração econômica, ficaram com problemas financeiros, mas têm capacidade operacional. Há oportunidades para estrangeiras comprarem bons ativos.”

Funchal ressalta ainda que a participação das estrangeiras deve ser observado tanto na execução, quanto na participação das concessões, onde tendem a formar consórcios com empresas brasileiras.

Desafio

Já na análise, Luiz Antônio Messias, o vice-presidente de infraestrutura, PPPs e concessões do SindusCon-SP, uma questão que deve ser revista para que a oportunidade não fique apenas entre as ‘médias para grande’ porte do setor, é o formato das licitações.

Uma das flexibilizações citadas por ele é a divisão dos projetos em um maior número de lotes, onde isso é possível, como é o caso dos projetos de rodovias e de iluminação pública.

“Uma média não consegue fazer um projeto de iluminação de uma metrópole inteira, mas poderá pegar trechos. O mesmo em rodovia, em que dividir o lote abre o leque para concorrência”, diz.

Além disso, ele cita outros fatores que poderiam ajudar, como a permissão de consórcios em todas as PPPs, a utilização do projeto como garantia e a diminuição da insegurança jurídica, que dificulta até na obtenção de financiamento.