Enchentes no RS afetam indústria e produção nacional recua 0,9% em maio, aponta IBGE

A produção industrial recuou 0,9% em maio, influenciada principalmente pelos efeitos das enchentes do Rio Grande do Sul sobre as unidades industriais. Do setor de autopeças à produção de alimentos, diferentes fábricas paralisaram as atividades por conta das chuvas e isso afetou o abastecimento para produção de bens finais. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) e foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira.

Trata-se do segundo mês seguido de queda, período em que a indústria acumulou perda de 1,7%. Em abril, a produção do setor recuou 0,5% ante o mês de março, quando havia subido 0,9%.

O que dizem analistas?

A leitura de economistas segue positiva para o desempenho do setor industrial no ano. Isso porque, apesar da retração da indústria em maio, o resultado veio melhor do que esperavam os analistas. A estimativa era de que o setor recuasse 1,3% no mês, segundo mediana das projeções compiladas pelo Valor Data.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, diz que a perspectiva para a indústria permanece “relativamente positiva” para 2024. Entre os fatores positivos, ele cita o aquecimento da demanda interna; a recuperação da indústria, com fim de ajuste de estoques; a balança comercial favorável, com bom resultado das exportações; a política de estímulo à atividade, como o Novo Plano Industrial.

— Projetamos um crescimento de 1,8% para a produção industrial brasileira em 2024 — afirma Cadilhac.

No balanço de riscos, contudo, o economista está de olho na desaceleração da economia global; perspectiva de ciclo de corte de juros menor do que o anteriormente esperado e preços ao produtor voltando a subir.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul deverá ser limitado. Os dados preliminares de atividade do mês de junho já sinalizam uma recuperação da economia, diz ela.

— Os números divulgados hoje não alteram nossa visão de que a indústria deve fechar o ano com crescimento próximo de 1%.

Economista do Ibre/FGV, Stéfano Pacini, acrescenta que há uma perspectiva positiva relacionada ao ambiente de negócios no decorrer do segundo semestre, a despeito de como será a recuperação do setor depois dos efeitos das enchentes no Sul, informou o economista em relatório do instituto.

— O cenário macroeconômico de cortes na taxa de juros foi interrompido, porém os indicadores de trabalho e renda continuam positivos e contribuem com a tendência de otimismo para os próximos meses na indústria.

Férias coletivas para mitigar danos das enchentes no RS

Das 25 atividades investigadas pela pesquisa, 16 recuaram em maio. Puxaram o resultado para baixo a queda na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%) e produtos alimentícios (-4%). A indústria intensificou a queda que tinha sido registrada no mês anterior. E um dos fatores para isso, segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, foram as chuvas no Rio Grande do Sul.

— As enchentes tiveram um impacto local maior, mas também influenciaram o resultado negativo na indústria do país — explica Macedo.

Tanto as montadoras de veículos quanto as fábricas de autopeças paralisaram a produção em decorrência das chuvas, o que acabou afetando o abastecimento para a produção de bens finais no resto do país. Segundo Macedo, houve até concessão de férias coletivas em uma planta industrial em São Paulo.

A paralisação por conta de greve em outra montadora e a base de comparação elevada do setor também ajudam a explicar o recuo, acrescenta o pesquisador. Em abril, o setor de veículos havia avançado 13,8%.

Produção de petróleo ajuda a conter resultado negativo

Já no caso de produtos alimentícios, as chuvas no RS afetaram a produção de carnes de aves, bovinos, suínos e de derivados da soja. Outro fator que fez a produção desta atividade cair 4% em maio foi a retração no processamento da cana-de-açúcar. Uma condição climática menos favorável na segunda quinzena de maio acabou provocou uma queda pontual na produção do açúcar, segundo o IBGE.

O bom desempenho das indústria extrativas (alta de 2,6% em maio) e de petróleo e biocombustíveis (1,9%), foi o que ajudou a evitar uma queda maior do setor industrial no período.

— Esses dois segmentos têm grande peso e evitaram uma queda maior no resultado. O crescimento do setor extrativo veio após uma queda no mês anterior, ou seja, tem o efeito de uma base de comparação mais negativa. Também houve aumento na extração dos dois principais produtos, o petróleo e o minério de ferro — diz o gerente.

Fonte: O Globo