Inflação na Construção Civil: qual é o efeito para os investidores?

Entenda o que está em jogo diante da maior inflação na construção dos últimos 28 anos e saiba como se posicionar

O Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), que regula o reajuste dos aluguéis, já ultrapassa a casa dos 30% e é aferido pela média ponderada de alguns valores. Entre as bases do cálculo, está o INCC-M (Índice Nacional de Custo de Construção — Mercado), que tem sido o vilão para quem deseja construir, comprar e, por consequência, alugar imóveis.

O acumulado dos últimos 12 meses do INCC-M, contabilizando o período que antecede maio deste ano, está na casa dos 14,6%. Nesse histórico, em apenas um mês não houve crescimento acentuado no valor de materiais, equipamentos, serviços e mão de obra. Para se ter ideia, somente em março deste ano houve uma alta de 2% e, em maio, de 1,8%.

Outros índices são ainda maiores. O IGP-10, que, assim como o INCC-M, é medido pela Fundação Getúlio Vargas e registra o valor geral de preços em diversos setores (agro, indústria, bens, serviços etc.), está com um acumulado de 35,9% nos últimos 12 meses. É a maior inflação do setor nos últimos 28 anos e o custo de produção está nas alturas.

Para conhecer mais o assunto e saber como investir nesse cenário, acompanhe este artigo.

Entenda a razão da inflação nos preços do setor imobiliário

Homens trabalhando em ambiente de construção
A desvalorização do real é uma das principais razões do fenômeno. (Foto: Yuttana Contributor Studio/Shutterstock)

A alta nos preços da construção civil teve uma série de causas, e a alta do dólar é uma delas, se não a principal. Apesar de o Brasil exportar minério de ferro e ligas metálicas, a desvalorização do real em cerca de 40%, em um ano, fez a compra doméstica dessa commodity ser mais cara. Além disso, qualquer item importado tem o preço impulsionado.

O crescimento dos preços na construção civil também vem pelo custo de interrupções na produção por conta da covid-19 e pelo desencontro entre oferta e demanda em meio à pandemia.

É por isso que construir ou comprar imóveis exige cautela nesse período. Agora, se o seu objetivo for investir em títulos de renda fixa ou variável, vale a pena olhar para a questão de outro ponto de vista.

Como a inflação no setor impacta a LCI e os FII?

Já passou a época que comprar imóveis significava um bom investimento. Hoje, vale mais a pena investir na construção deles.

A ideia é simples. Os construtores precisam de dinheiro para erguer casas, sobrados, galpões e edifícios. Para isso, usam dinheiro de investidores, como se fosse um empréstimo. Isso funciona basicamente de duas formas: com títulos de renda prefixada ou pós-fixada (LCI) e fundos de retorno variável (FII).

Conheça mais sobre essas modalidades e qual é o horizonte para cada uma delas.

Letras de Crédito Imobiliário (LCI)

Duas pessoas manuseiam um laptop. Ao fundo, ambiente urbano com prédios
Não debitar imposto de renda está entre os principais benefícios da LCI. (Foto: Everything Possible/Shutterstock)

As LCIs são uma forma de investimento bastante interessante. Nesse caso, instituições bancárias emitem títulos relacionados a atividades da construção civil e remuneram seus “sócios” após a vigência do papel. Essa remuneração pode ser prefixada ou, como em geral ocorre, pós-fixadas.

As pós-fixadas geralmente são atreladas ao CDI (de 85% a 105%,em geral). Funciona assim: o Banco Central brasileiro determina que nenhuma instituição financeira pode terminar o dia com caixa negativo. Por isso, os bancos emprestam dinheiro entre si no fim do dia. A taxa desse empréstimo é o CDI e é em torno dela que sua LCI renderia.

A vantagem desse investimento é que, assim como ocorre em relação às Letras de Crédito Agrícolas, o governo não cobra imposto de renda sobre esse tipo de transação. Ele entende que você está ajudando a financiar uma área estratégica para o País, então recebe esse incentivo. Mas será que isso é motivo suficiente para fazer uma LCI no cenário atual?

Esses títulos são bem tradicionais, atendem bem o perfil conservador e sempre terão seus adeptos. Porém, nesse momento não há muitas vantagens em optar por uma LCI. Em razão da taxa Selic estar baixa, o CDI também opera em níveis reduzidos (3,4% no fim de maio deste ano) e apresenta baixa liquidez.

Até mesmo os títulos do Tesouro Direto com remuneração híbrida parecem ser mais interessantes: não têm boa liquidez, mas são mais seguros e remuneram um pouco melhor.

Fundos de Investimento Imobiliário (FII)

Gráficos na cor azul são dispostos em tela
Fundos permitem diversificar investimento e correr menos riscos na busca por rendimentos melhores. (Foto: Bluebay/Shutterstock)

Os FII atendem um perfil mais arrojado. Nesse caso, trata-se de investimento na bolsa de valores. Mas, em vez de optar por uma ou outra ação, você opta por um “kit” com vários investimentos, buscando o máximo de eficiência em rentabilidade e segurança.

Você pode procurar corretoras que façam essa composição para você ou pode também diversificar seu investimento em torno de ações do setor imobiliário. Mas, nesse caso, é fundamental uma análise sistemática do setor. Procure ser cauteloso e tomar medidas lúcidas.

Na dúvida, vale a pena contar com profissionais: apenas em carteiras imobiliárias, os fundos de investimento somavam mais de R$ 172 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Isso significa que há grandes players no negócio.

Ao investir em títulos de rendimento variável, corre-se mais risco, naturalmente, mas esse parece ser um bom momento para isso. A taxa de juros básica está remunerando pouco, a exemplo do reflexo na LCI, e a demanda por financiamento na construção civil é alta. Além disso, o mercado está aquecido.

Por isso, ainda que o aumento expressivo dos últimos meses não se verifique na mesma medida, o futuro ainda deve reservar um sopro de boa precificação no setor — e bons rendimentos para investidores que apostam em construí-lo.

Fonte: Estadão