Construção civil se mostra ‘imune’ ao novo coronavírus

Um dos setores da economia que apesar dos impactos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) não parou e tem expectativa de se recuperar mais rapidamente que os demais é o da construção civil. Em Mogi das Cruzes, entre março e maio, a Secretaria Municipal de Planejamento recebeu 658 pedidos de licenciamento para novos projetos e as construtoras não interromperam o cronograma de obras.

“O setor não parou. Desde setembro de 2019 recebemos 1.889 pedidos para aprovação digital, já concluímos a análise de 1.332 projetos, sendo 1.061 aprovados e 271 indeferidos. Mesmo na pandemia continuamos recebendo novos pedidos de aprovação de projetos de edificações e loteamentos. No início do mandato, o prefeito Marcus Melo determinou que os procedimentos da secretaria fossem desburocratizados facilitando a vida do cidadão e empresário. A mudança de paradigma e de desburocratização possibilitou que a partir de setembro de 2019 implantássemos o Sistema de Aprovação Digital, que nos garantiu, neste momento mais delicado, responder às demandas da construção civil com segurança e rapidez”, explica o secretário municipal de Planejamento e Urbanismo, Claudio Marcelo de Faria Rodrigues.

Segundo ele, a construção civil – que em São Paulo está entre os setores autorizados pelo governo a seguir em plena atividade – teve que se adaptar e resguardar a saúde dos trabalhadores. “É um setor fundamental para o incremento da economia, não só pela geração de empregos diretos e indiretos, mas também de toda a cadeia produtiva que começa na aprovação de projetos, serviços especializados, aquisição de materiais e equipamentos, execução das obras e outros”, enfatiza.

O secretário cita empresas como Helbor, MRV, J.Bianchi, Cury e Damebe, que estão construindo empreendimentos e prospectando novos negócios, contribuindo na economia da cidade. “A MRV desenvolve dois projetos habitacionais em César de Souza, o primeiro próximo à avenida Francisco Rodrigues Filho e rua Adolfo Lutz, que está em aprovação junto ao Graprohab/Governo do Estado, e outro em construção e que implantará três condomínios entre as estradas Antiga Imperial e do Beija-Flor, com previsão de 400 unidades habitacionais em cada um”, conta Rodrigues.

O loteamento com início na avenida Pedro Romero, no Rodeio, e que se estende pela avenida Francisco Rodrigues Filho, em César de Souza, também é destacado pelo secretário. “É um investimento que está sendo implantado pela Alden Desenvolvimento Imobiliário, que pertence à Helbor e ao Grupo Suzano. O empreendimento será feito em etapas e a médio prazo. Atualmente, as obras estão concentradas na implantação de infraestrutura e demarcação das quadras da primeira etapa denominada setor cidade”, completa.

O mercado e os impactos da pandemia na economia são discutidos pela Prefeitura com vários segmentos da construção civil, empresas que atuam na cidade e representantes da AEAMC e do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon). “Nas últimas semanas, o prefeito coordenou o Plano de Retomada Econômica da cidade e acompanhamos o comportamento da economia e o momento do país. Há um movimento positivo do setor em Mogi”, lembra Rodrigues.

Além dos investimentos na área habitacional, o secretário aponta outros expressivos no setor comercial em diferentes regiões da cidade, como a construção do centro administrativo do Grupo Shibata, recém-concluído na Vila Industrial. “Já o Grupo Alabarce iniciará em 15 dias as obras da loja da região da avenida Kaoru Hiramatsu, e nesta semana tivemos a aprovação de um novo centro comercial para o Nova Mogilar, entre as avenidas Francisco Rodrigues Filho e Antônio de Almeida, com mais de 5 mil metros quadrados de construção”, conclui.

Mercado imobiliário ainda é um dos mais rentáveis

Embora as obras nos empreendimentos de Mogi das Cruzes não tenham sido paralisadas pela maioria das construtoras durante a atual crise econômica trazida pelo novo coronavírus (Covid-19), o setor encontra dificuldades, especialmente na comercialização dos imóveis.

O problema ocorre, principalmente, devido à obrigatoriedade de paralisação das atividades das imobiliárias, que só puderam voltar a funcionar na última sexta-feira, após a nova classificação do Alto Tietê no Plano São Paulo, que tirou as cidades da região da fase vermelha – com autorização de abertura apenas dos serviços considerados essenciais -, para a laranja, que permite atividades comerciais, incluindo shoppings, e do setor de serviços, mas com restrições, principalmente de horário e de volume de público atendido.

O empresário Wilson Cruz, proprietário da Damebe Construtora, explica que o cronograma de construção dos empreendimentos da empresa na cidade não parou, porém, as vendas permaneceram zeradas durante os últimos três meses.

“As obras nunca ficaram paralisadas, porém, não podíamos vender nada porque as imobiliárias foram fechadas durante todo este tempo, assim como os plantões de vendas. Ficou bastante complicado para quem atua neste setor, mas agora, com esta recente permissão de funcionamento, acredito que tudo isso vai melhorar daqui para a frente e, nas próximas semanas, a comercialização dos imóveis deve voltar a acontecer de forma lenta, mas positiva. Porém, a normalidade apenas será retomada aos poucos. É preciso ter paciência mesmo”, considera.

Segundo ele, um dos mais recentes empreendimentos concluídos pela construtora, o Luzes Residence, com unidades de três e quatro dormitórios, no Nova Mogilar, já está praticamente comercializado. “Temos apenas um apartamento para vender lá. O restante está tudo liquidado. Agora, estamos na fase de construção e vendas do Duetto (Residence), o último lançamento da praça (Assumpção Ramirez Eroles), porque não há mais área disponível ali. É nosso último lote naquela região da cidade, onde construímos vários prédios residenciais nas últimas décadas”, revela Cruz.

Apesar das atuais dificuldades enfrentadas pelo setor, o empresário acredita que o mercado imobiliário ainda se destaca como um dos investimentos mais rentáveis, por isso, avalia que o setor será retomado gradativamente, porém tem condições de se recuperar de forma muito mais rápida do que os demais setores da economia brasileira.

“Imóvel sempre foi um bom investimento e agora, neste momento que estamos vivendo, será ainda mais, porque quem é que vai aplicar dinheiro no banco hoje para perder até mesmo para a inflação? Os bancos nunca perdem e nos pagam uma baba de juros. Não vale a pena. Enquanto isso, os imóveis continuam sendo constantemente valorizados”, analisa.

Há mais de quatro décadas construindo apartamentos, lofts e casas à frente da Damebe, em Mogi das Cruzes, o empreendedor relembra que após os últimos anos marcados por maiores dificuldades na economia brasileira, o país vinha apresentando melhora no início deste ano, mas no terceiro mês, com o começo da pandemia do novo coronavírus, os negócios sofreram uma brusca retração nas mais diversas áreas.

“Este ano de 2020 começou bem e estávamos conseguindo começar a subir depois de tudo o que passamos. Mas por causa da doença, tudo foi brecado e agora vamos reiniciar. Só para que para voltar àquele boom que vivemos no mercado imobiliário há algum tempo, que foi um período muito bom de investimentos nesta área, ainda vai levar mais uns anos”, considera o empreendedor.

Prontos para lançar empreendimentos 

Com cerca de 300 funcionários, sendo 220 em Mogi das Cruzes e 80 em São Paulo, além de 500 corretores autônomos que atuam na HB Brokers – promotora de vendas da Helbor Empreendimentos S.A. -, a empresa mogiana é uma das que manteve as atividades durante a atual crise causada pelo novo coronavírus, adotando as medidas necessárias para prevenção à doença.

Henrique Borenstein crê em mudanças no pós-pandemia. (Foto: divulgação)

“A Helbor, como incorporadora, manteve o acompanhamento das obras de 15 empreendimentos por meios de seus engenheiros, que monitoram e fazem visitas periódicas nos edifícios em construção. Em todas as obras foram realizadas adaptações para a proteção e segurança dos operários, como disponibilização de álcool em gel e máscaras, mudanças nos horários de entrada e saída dos operários, para evitar aglomerações; orientação para manter o distanciamento indicado entre os operários. Tudo coordenado pela construtora contratada”, conforme explicou o economista Henrique Borenstein, 84 anos, presidente do Conselho de Administração da Helbor Empreendimentos S.A., em entrevista ao Podcast Informação, do editor-chefe de O Diário, Darwin Valente, no final de maio.

Segundo Borenstein, até o momento todos os empreendimentos mantiveram seu cronograma de construção, inclusive os de Mogi (Helbor Passeo Patteo Mogilar e o Helbor Praças Ipoema). “Temos diversos projetos já prontos que prevíamos lançar esse ano. Evidentemente, com a situação enfrentada por todos na área de saúde, com o problema financeiro, teremos de aguardar e analisar a situação a partir de agosto ou setembro, que é quando o mercado deve começar a se abrir novamente. O que podemos dizer no momento é que estaremos preparados para realizar lançamentos logo que o mercado permitir, inclusive em Mogi”, destaca o empresário.

Ao final da pandemia, Borenstein acredita que haverá mudanças no setor da construção civil, principalmente nos cuidados que devem ser tomados a partir de agora nos ambientes de trabalho, assim como nas casas das pessoas. “No mais, também é possível que aconteça uma mudança no conceito dos apartamentos de agora em diante, como a disposição das áreas de convivência e áreas mais reservadas. O importante é que a retomada do setor já tem ocorrido aos poucos, porque, na verdade, quem tem recursos disponíveis para investir está de olho em algo seguro, que se mantenha valorizado em qualquer momento”, avalia.

Para que os clientes pudessem acompanhar a evolução das obras no Helbor Passeo Patteo Mogilar e no Helbor Praças Ipoema – este último em César de Souza -, a empresa que atua na cidade desde 1977 encaminhou vídeos do andamento dos trabalhos.

Mercado

Na avaliação do presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Mogi das Cruzes (AEAMC), Nelson Bettoi Batalha, mesmo considerada serviço essencial, já que é responsável pela manutenção desde a distribuição de água até de estradas, a construção civil sofreu grandes perdas com a pandemia. “Ela está atrelada à economia nacional e até global e houve lentidão em vários segmentos, alguns até com paralisação, com muita dispensa de mão de obra”, explica.

Ele destaca mudanças na rotina de trabalho para adoção de protocolos a fim de evitar a contaminação pela Covid-19. “Tivemos atrasos, principalmente em obras pequenas, por causa do tempo para adaptação às regras e troca de pessoal para trabalhar no lugar de outros do grupo de risco. Somente empreendimentos já em fase final conseguiram ser lançados”, conta Batalha, que acredita em novidades no setor. “A pandemia vai mudar toda a forma de vida e isto refletirá na construção, começando na elaboração dos projetos. No máximo até o primeiro semestre de 2021 poderemos voltar ao trabalho sem restrições”, acredita.