Juros altos reduzem mercado de médio padrão na construção civil, aponta pesquisa
Levantamento da Abrainc mostra que a participação deste segmento no mercado imobiliário caiu de 60% para 50% em um ano
Uma pesquisa inédita divulgada na semana passada pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e Brain Inteligência Estratégica revela que mercado de médio padrão registrou queda na participação de unidades lançadas neste segmento, um dos mais importantes para o setor.
Os dados envolvem cerca de 10.500 empresas do mercado imobiliário nacional.
Segundo os dados da pesquisa, no segundo trimestre de 2024, o mercado de médio padrão foi responsável por 50% do total do Valor Global Lançado (VGL), contra 26% do mercado de alto padrão e 24% do Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
No mesmo período do ano passado, essa participação do médio padrão era de 60%. Isso ressalta a importância da classe média para o mercado imobiliário, mostrando que esse segmento tem um papel crucial para o desempenho do setor e para a geração de emprego e renda.
Considerando apenas a capital paulista, o maior mercado imobiliário do Brasil, a queda foi ainda mais acentuada. O VGL do segundo trimestre deste ano representou 50% no período, contra 66% no intervalo anterior.
O aumento do custo de financiamento bancário é, sem dúvida, o grande responsável pela queda dessa participação relativa, argumenta o setor. Ainda assim, a classe média é o principal mercado para o setor imobiliário.
“A classe média tem interesse em comprar imóveis, mas encontra dificuldade em obter crédito devido aos juros elevados e ao alto custo do funding. Isso não só compromete o orçamento das famílias, que enfrentam obstáculos para financiar a casa própria, como também inibe o lançamento de novos projetos pelas incorporadoras, afetando todo o setor,” afirmou Luiz França, presidente da Abrainc.
A declaração foi dada na 7ª edição do Fórum Incorpora, no evento que reúne os nomes das maiores incorporadoras do país, empresários e agentes do mercado financeiro.
França disse que, mesmo com uma melhora no cenário econômico do Brasil, a taxa Selic, que hoje está em 10,75% ao ano, vem dificultando a vida dos empresários e das pessoas físicas.
“Verificamos a menor taxa de desemprego da história – desde o início da série da Pnad em 2012 – e com inflação sob controle, temos o desafio da taxa de juros que dificulta tanto os empresários quanto as pessoas físicas”, afirmou.
Números da pesquisa mostram ainda que essa queda também é notada quando observa uma alta intenção de compra: 48% dos entrevistados em geral, de acordo com os dados da BRAIN (maior número já registrado). Porém, esse patamar de intenção é menor (40%) justamente na faixa de renda entre R$ 10 a R$ 20 mil por mês.
No último dia 18 de setembro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa Selic para 10,75%, o que, segundo França, “tem efeito negativo sobre os tomadores de crédito em todos os setores da economia, encarecendo os empréstimos e financiamentos.”