Setor quer tornar construção industrializada mais conhecida

“Nosso desejo era que o mercado acordasse sem que houvesse uma tragédia tão grande como a que aconteceu no Rio Grande do Sul, mas fato é que as empresas da indústria da construção civil já estão preparadas há pelo menos uma década”, afirma Nelson Zanocelo, diretor no Brasil da francesa Saint-Gobain, sobre a capacidade do setor para a produção de moradias de maneira rápida e segura, necessidade evidenciada pelo déficit que surgiu após as enchentes de maio no Estado. Para o gestor, os desafios são conquistar a confiança da população e o apoio dos governos.

O assunto pautou os debates entre empresas e representantes do setor público presentes no 2º Seminário Industrialização na Construção, realizado na tarde desta terça-feira, dia 10, em Porto Alegre. A realização é uma parceria do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS) e a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea-RS).

A técnica, incorporada ao cotidiano das construções comerciais, ainda é novidade quando o fim é residencial. Trata-se de um modelo construtivo que tira do canteiro de obra a execução de grande parte do trabalho, que é desenvolvido antecipadamente em ambiente controlado dentro de uma indústria. Tempo, material e energia são economizados, com maior garantia de fidelidade ao projeto. Casas definitivas feitas com estruturas pré-fabricadas, seguindo esta técnica, serão doadas pelo Sinduscon-RS para famílias desabrigadas pela enchente, por meio de parceria com a prefeitura de Porto Alegre.

Jeane Di Primio, diretora da Novas Ideias Arquitetura, de Porto Alegre, entende que questões culturais, aliadas a normativas que relacionam o resultado ao tipo de tecnologia a ser empregada, formam uma barreira a ser superada. “De forma geral, as pessoas ficam ávidas por novas tecnologias, que muitas vezes não são utilizadas pela falta de divulgação ou por falta de conhecimento”, aponta.

Ainda assim, a industrialização na construção é um dos caminhos defendidos para a resposta rápida que a sociedade gaúcha precisa diante da crise habitacional – somente em Porto Alegre a demanda de moradia para atingidos pela enchente chega a 20 mil famílias. “É um tema que já precisava ser discutido antes e agora mais ainda. Tem quem veio (ao seminário) pelo contexto atual, mas vejo pessoas que tratam disso há mais tempo e que entendem a necessidade de manter a discussão constante”, aponta a arquiteta e urbanista Raquel Hagen, presidente da Asbea-RS.

O seminário, que teve lotação fechada uma semana antes, chama atenção para algo que está no horizonte do mercado: “soluções inovadoras falando de produtividade, velocidade de execução, prazo e desempenho voltado para a qualidade”, aponta o engenheiro civil Roberto Sukster, vice-presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade, Produtividade e Sustentabilidade (COMAT+S) do Sinduscon-RS. Presente na plateia do evento, o Coronel Estêvam Camargo, Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado, destaca o desempenho como um dos requisitos para a garantia de segurança dos imóveis.

Sukster indica que a entidade seguirá fomentando o debate, especialmente por identificar que “as empresas de construção industrializada modular que são concorrentes têm a mesma demanda hoje, a mesma dificuldade dentro do mercado”. O objetivo, completa o engenheiro, será levar “toda a cadeia de produção a agir de forma única para que a industrialização se torne uma realidade para o Brasil como um todo”.

Fonte: Jornal do Comércio