Empresas criam soluções para a falta de mão de obra na construção civil; saiba quais

A dificuldade de contratar mão de obra, seja ela qualificada ou não, para o setor da construção civil é uma realidade que já vem sendo relatada pelos empresários há algum tempo. Para amenizar este problema, as empresas têm investido em capacitação, valorização dos profissionais, tecnologias e inovações para compensar a redução da oferta de pessoal.

A dificuldade de contratação apareceu, inclusive, na Sondagem Indústria da Construção, realizada este ano pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Na pesquisa, para 28,2% dos empresários de todo o País, a falta ou o alto custo do trabalhador qualificado atingiu o índice mais alto entre as preocupações

Na ocasião, a preocupação alcançou o maior número da série histórica. Em 10 anos, foi a primeira vez que este item obteve a maior preocupação entre os empresários, como mostrou a reportagem do Diário do Comércio naquela época.

Geraldo Linhares, presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), considera o problema “grave”. Por isso, têm estimulado treinamentos dentro do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para apresentar o setor para os estudantes.

“O Senai hoje tem cursos que mobilizam jovens mostrando que eles têm capacidade de ter altos salários na construção e ganhar até duas ou três vezes o salário base considerando a produtividade”, alega.

Na opinião do presidente, a intensificação das capacitações é o melhor caminho para a solução do problema. E aposta na promessa do presidente da Fiemg, a construção de uma grande escola da construção civil na região do Barreiro, em Belo Horizonte, como uma oportunidade de formação de novos profissionais para o Estado e para o setor.

“É uma escola que visa produzir muita mão de obra: pedreiro, operador de equipamento, montadores de forma, operador de gruas, entre outras. Serão mais de 5 mil alunos considerando os três turnos”, afirma.

A falta de qualificação é um dos fatores apontados como causa do “apagão” de profissionais na construção civil pelo professor do curso de Engenharia Civil da faculdade Faseh, Rodrigo Romero. Além disso, ele aponta o envelhecimento dos profissionais atrelado ao não rejuvenescimento, às condições intrínsecas das obras e às oportunidades melhores apresentadas aos profissionais atualmente como outros possíveis fatores.

Diante dessa realidade, as empresas estão em busca de soluções. A otimização de processos juntamente com o uso de novas tecnologias, têm contribuído para amenizar os problemas, principalmente nas grandes empresas. O presidente da Câmara da Indústria cita o exemplo das paredes de concreto feitas a partir de formas metálicas que excluem a necessidade de profissionais para a colocação de tijolo a tijolo.

“Com elas é possível montar um pavimento por dia. Então, se você quer construir um prédio de 10 pavimentos, você o faz em 10 dias úteis. É realmente uma agilidade que as grandes empresas ganham e uma economia de mão de obra”, explica.

Entretanto, a solução dos pré-fabricados é ideal para grandes empresas, que produzem em série como para o “Minha Casa, Minha Vida”. Diferente disso, os caminhos vão para outro tipo de tecnologia, como explica o empresário Gabriel Pentagna, da Pentagna Incorporadora. No caso deles, que atuam no alto padrão, o uso do BIM (Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção) possibilita a criação de projetos mais precisos e eficientes, reduzindo custos e prazos de execução.  “A automação e a pré-fabricação aceleram também o processo construtivo, garantindo mais qualidade e minimizando erros”, afirma Pentagna.

O empresário cita também avanços no time de vendas que, assim como no chão de fábrica, vive uma carência de profissionais. “Na área comercial, temos usado ferramentas de realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) que melhoram a experiência do cliente, permitindo que visualizem os projetos antes da construção, facilitando a decisão de compra”, diz.

O diretor executivo de Desenvolvimento Humano e Organizacional do Grupo Patrimar, Silvano Aragão, conta que o grupo trabalha tanto com o padrão econômico quanto com o alto luxo. Para este último, ele afirma que a construção ainda é “quase artesanal” e a presença feminina tem sido uma solução cada vez mais utilizada e desejada em função das habilidades manuais. 

A internalização dos serviços é outra tendência que, além das citadas, tem sido adotada pelo Grupo Patrimar. “Trabalhamos com cerca de 300 empreiteiras e temos internalizado algumas funções para atrair colaboradores para a Patrimar. Oferecemos um pacote de remuneração e benefícios para reter ou atrair a mão de obra”, conta.

De acordo com o diretor, o grupo também tem feito parcerias com escolas técnicas dando oportunidade para os alunos. “Estamos identificando estes alunos que não conseguem entrar no mercado por falta de experiência e dando a eles a chance de estarem conosco, dando capacitação e oportunidade”, afirma Aragão.

Imigrantes estão no ‘radar’

Para superar a escassez de trabalhadores do setor, o diretor da Patrimar diz que os imigrantes são uma opção em análise. Presentes cada vez mais no País, ele comenta que é uma alternativa que está sendo avaliada, mas adianta que têm encontrado dificuldades.

“Estamos avaliando a parte legal e também a questão do idioma”, pontua.

O professor da faculdade Faseh, Rodrigo Romero, também tem identificado o uso da automação em tarefas consideradas repetitivas e mais perigosas. “Ao invés do trabalhador ficar submetido a riscos como grandes alturas, fontes energizadas, que afastam o interesse do trabalhador pelo setor, as grandes construtoras estão investindo em desenvolver novas tecnologias e buscando automatização para este tipo de atividade”.

O professor cita ainda a manufatura aditiva como outra alternativa. “As empresas têm usado grandes impressoras 3D para fazer casas e otimizar processos. São imóveis que não usam tijolo, mas sim camadas de concreto que são depositadas uma a uma”, explica. Ele lembra ainda que a certificação e o treinamento contínuo é extremamente importante para a manutenção do operacional.