Saiba quando recorrer à impermeabilização por cristalização
Com baixa permeabilidade, solução impede a entrada de agentes agressivos nocivos ao concreto e ao aço estrutural.
A impermeabilização do concreto por cristalização se dá através de um traço de concreto. Os materiais que o constituem e os aditivos especiais possuem uma proporção ideal, de maneira que o concreto no estado endurecido terá menor permeabilidade se comparado ao comum. “Além disso, através do empacotamento dos grãos de seus constituintes, alguns componentes do traço possuem a capacidade de reagir na presença de água e formar cristais insolúveis nos poros capilares e fissuras”, informa a engenheira Luana Scheifer, gerente Técnica da Votorantim Cimentos.
De acordo com o engenheiro Cláudio Ourives, diretor da Penetron, os cristais resistem a grandes pressões de água tanto negativa quanto positiva. “A mesma água, que é a vilã da estrutura de concreto armado, catalisa a reação de cristalização que, por sua vez, melhora o desempenho do concreto à penetração de água”, explica. Essa rede cristalina também impede a entrada de agentes agressivos nocivos ao concreto e ao aço estrutural. Por outro lado, permite a saída do vapor d’água ou a respiração do concreto, evitando pressões internas nos seus poros e tornando-o permanentemente seco.
Usos
Este tipo de concreto é recomendado para locais onde exista presença de água ou umidade excessiva. É o caso das estruturas enterradas, como lajes e cortinas de subsolo, poço de elevador, túneis e galerias. Ourives recomenda o uso também para tanques de água potável ou efluentes, como estações de tratamento de água e de esgoto, reservatórios de distribuição de água potável e piscinas, além das estruturas próximas ou em contato com a água do mar, como as portuárias.
Ele relata que os resultados obtidos de ensaios de difusão de cloreto no concreto mostram que há um grande aumento da vida útil com o aditivo de cristalização. Por essa razão, o produto é indicado para estruturas em ambientes agressivos de classe III e IV, conforme a ABNT NBR 6118.
Características
A engenheira ensina que o concreto impermeabilizado por cristalização se caracteriza pela baixa permeabilidade, baixa absorção de água e baixa porosidade. “São fatores que reduzem significativamente a possibilidade da entrada de agentes agressivos na estrutura”, reforça ela.
Segundo Ourives, trata-se de um concreto de alto desempenho e elevada durabilidade. É também chamado de concreto autocicatrizante (ou self-healing) pelo efeito de selamento de fissuras pelos cristais contra a passagem de água. “Os cristais formados são de base mineral e não se decompõem ao longo do tempo. Têm a mesma vida útil do concreto”, diz, complementando que o desempenho do produto com cristalizante melhora quanto maior o tempo em contato com a água.
Quando usar
“A cristalização é usada tanto na proteção/impermeabilização do concreto quanto na recuperação de manifestações patológicas. Existem aplicações de impermeabilização por cristalização no concreto endurecido, onde um produto específico é aplicado na superfície do concreto”, expõe Scheifer, referindo-se às argamassas de cristalização para reparo, proteção e para tratar infiltrações ou vazamentos.
Tais infiltrações podem causar corrosão do aço, recalques em terrenos vizinhos e até problemas estruturais se não forem solucionadas. “Essas argamassas têm propriedades hidrofílicas, ou seja, são atraídas pela água. Assim, mesmo quando aplicados contra a pressão da água, os componentes de cristalização penetram profundamente nos poros e capilares do concreto, selando-os definitivamente”, complementa o engenheiro.
Projeto
Para que o concreto autocicatrizante se apresente como solução ideal em situações críticas, como estruturas sujeitas à água do lençol freático e do mar, é preciso ser combinado com um projeto de estrutura estanque. “Com essa tecnologia o concreto se torna impermeável. Mas a estrutura exige tratamentos especiais em seus pontos de fragilidade, para que não haja entrada de água em nenhum deles. Por exemplo, utilizando-se juntas frias de concretagem, interface entre concreto e perfis metálicos, ou aplicação do concreto sem nichos de concretagem”, alerta a engenheira.
Com a cristalização do concreto, é possível dispensar a drenagem do lençol freático nas estruturas de fundações e subsolos. “Porém, o projeto estrutural deve ser dimensionado para suportar as pressões negativas. Nas juntas frias da laje de subpressão, no encontro com pilares e cortinas, é preciso instalar fitas hidrofílicas expansivas, que selam a passagem da água por expansão. Furos no concreto das ponteiras de rebaixamento devem ser selados com as argamassas de cristalização especiais”, destaca Ourives.
Custo-benefício
Para Scheifer, cada projeto precisa ser estudado em detalhes para obter a relação custo-benefício. “Depende do número de juntas, tipo de impermeabilização considerado no projeto inicial, qualidade de formas e tipo de concretagem, entre outros fatores”, defende.
Já Ourives entende que a tecnologia de impermeabilização do concreto por cristalização é o sistema de melhor relação custo-benefício. “Há um ganho no desempenho do concreto, otimização do projeto e redução do cronograma da obra. Além disso, os materiais utilizados não deixam resíduos, não são tóxicos ou explosivos e não agridem o meio ambiente. Também atendem a certificações de impacto ambiental, como o LEED, por não possuírem compostos orgânicos voláteis (VOC)”, conclui.