Fortaleza – CE | terça-feira 1 de julho de 2025 / 03:40

Construção civil cresce em 2025, mas sofre com falta de mão de obra qualificada e alta rotatividade de executivos

Setor prevê avanço no PIB, mas enfrenta gargalos em liderança, inovação e atração de jovens talentos para cargos técnicos e estratégicos

Mesmo diante de desafios como juros altos e custos crescentes, o setor da construção civil brasileira segue em trajetória de crescimento em 2025. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o PIB da construção deve avançar 2,3%, enquanto SindusCon-SP e FGV-Ibre estimam alta de 3% para o ano.

Esse otimismo se sustenta especialmente no segmento popular, estimulado por programas como o Minha Casa Minha Vida e a expansão de construtoras regionais para novos mercados. No entanto, os entraves estruturais do setor permanecem, com destaque para a escassez de profissionais qualificados e a carência de lideranças preparadas para funções estratégicas.

Falta de profissionais qualificados impacta o desempenho das empresas

Dados da pesquisa Sondagem da Construção (FGV-Ibre) mostram que 71,2% dos empregadores do setor enfrentaram dificuldades para contratar trabalhadores qualificados entre junho de 2023 e junho de 2024. Esse número evidencia uma lacuna técnica preocupante, agravada por modelos de trabalho ainda ultrapassados e pouco alinhados com o ritmo de transformação de outros segmentos econômicos.

Para Fábio Cassab, sócio da EXEC, consultoria especializada em recrutamento de altos executivos, o setor ainda adota processos repetitivos e conservadores, com baixa adoção de inovação tecnológica. Ele alerta que há uma dupla realidade no setor: a mudança de mentalidade no pós-pandemia, com busca por equilíbrio entre o presencial e o remoto, e a ausência de líderes capazes de lidar com as novas exigências de mercado.

“A construção civil no Brasil ainda segue modelos de trabalho que se repetem há anos. Isso dificulta o avanço técnico e estratégico”, pontua Cassab.

Lideranças operacionais limitam a evolução estratégica

Outro problema destacado por Cassab é o perfil dos líderes no setor, frequentemente moldados apenas pela vivência prática no canteiro de obras. Embora esse tipo de experiência seja valiosa, ela não garante preparo para gestão estratégica, tomada de decisão, análise de resultados ou planejamento de longo prazo.

Além disso, há um desequilíbrio na remuneração entre grandes construtoras e pequenas ou médias empresas. Enquanto as companhias maiores oferecem planos estruturados de carreira e bonificações por desempenho, as PMEs enfrentam limitações financeiras e ausência de visão estratégica, o que impacta a retenção de talentos.

“Há casos em que executivos trocam de empresa por pacotes agressivos de curto prazo, mas logo enfrentam frustrações. Isso resulta em alta rotatividade e vínculos frágeis”, avalia o consultor.

Cassab critica ainda a cultura de contratações baseadas em relações pessoais, com poucos critérios técnicos e baixa aderência cultural. Essa prática contribui para instabilidade no setor e ciclos curtos de permanência em cargos estratégicos.

Oportunidades para reverter o cenário

Apesar das dificuldades, Cassab vê amplas oportunidades para modernizar o setor e superar os gargalos estruturais. Entre as ações que podem ser adotadas pelas empresas da construção civil, ele destaca:

  • Implementar programas contínuos de job rotation;

  • Investir em formação de lideranças com foco em gestão e estratégia;

  • Criar planos de desempenho e retenção estruturados;

  • Promover políticas claras de remuneração e metas de longo prazo;

  • Estimular programas de estágio e trainees com foco no futuro do setor;

  • Apoiar formação técnica-acadêmica com universidades e instituições de ensino.

“O setor está aquecido e exige profissionalização. Com essas medidas, é possível reduzir o gap de qualificação e construir um ambiente mais atrativo para novos talentos”, destaca.

Desinteresse dos jovens pode agravar a crise de mão de obra

Um alerta importante para o futuro do setor é o baixo interesse dos jovens pela engenharia civil. Segundo Cassab, muitos preferem carreiras com menor esforço físico, possibilidade de trabalho remoto e salários mais altos. Mesmo entre os formados, há uma migração para setores com maior estabilidade e atratividade salarial.

“Trata-se de um trabalho 100% presencial, com pouco glamour. Isso afasta novos profissionais e compromete o futuro do setor”, conclui.

Com desafios estruturais e oportunidades claras de avanço, a construção civil vive um momento de transformação crítica. A profissionalização da gestão, a adoção de novas tecnologias e o desenvolvimento de lideranças estratégicas podem ser o caminho para sustentar o crescimento e garantir competitividade nos próximos anos.

Fonte: Redação

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