Fortaleza – CE | quinta-feira 24 de abril de 2025 / 11:43

Construções nas cidades brasileiras crescem em ritmo superior ao da população, aponta estudo

Crescimento urbano desproporcional revela avanço vertical em grandes metrópoles e expansão horizontal em cidades médias e pequenas, com impactos ambientais e sociais significativos

O volume de imóveis nas cidades brasileiras está crescendo mais rapidamente do que a própria população. Essa constatação faz parte de um estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (26) pela WRI Brasil, organização voltada à sustentabilidade. A pesquisa analisou a evolução da forma urbana no país entre 1993 e 2020, cruzando dados demográficos, uso do solo e mapeamento das áreas construídas.

De acordo com o gerente de Desenvolvimento Urbano da WRI Brasil, Henrique Evers, o levantamento permitiu identificar diferentes padrões de crescimento urbano. “A partir desses dados, conseguimos categorizar tipos de cidade: aquelas com espraiamento horizontal intenso, cidades com crescimento horizontal moderado, cidades estáveis e cidades que apresentaram verticalização”, explicou.

Grandes Metrópoles Ganham Altura, mas Perdem Habitantes

As grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, destacam-se pelo crescimento vertical. Esse padrão de ocupação concentra mais pessoas e serviços em menos espaço, promovendo maior compactação urbana. Segundo Evers, “cidades mais compactas facilitam o acesso da população às oportunidades urbanas e podem oferecer padrões de mobilidade mais eficientes, reduzindo o consumo de energia e as emissões de poluentes.”

No entanto, o estudo revela um fenômeno preocupante: embora essas metrópoles estejam estagnadas ou até perdendo população, o volume de construções continua aumentando. “As grandes cidades estão num processo de estagnação populacional, e, em alguns casos, há redução. Apesar disso, elas continuam crescendo na sua forma construída, principalmente de maneira vertical”, observa o pesquisador.

Especulação Imobiliária e Impacto Ambiental

O descompasso entre o crescimento demográfico e o aumento no volume de construções pode ser explicado, em parte, pela financeirização do espaço urbano. Muitas edificações são erguidas para fins especulativos, permanecendo vazias enquanto seus valores de mercado aumentam.

“Nosso intuito com esse trabalho é oferecer essa série temporal de quase 30 anos para permitir que novos estudos investiguem a relação causal e identifiquem os principais direcionadores desse fenômeno”, afirma Guilherme Iablonovski, cientista de dados da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Cidades Médias e Pequenas Expandem Horizontalmente
Em contrapartida, cidades médias e pequenas, como Campo Grande, Cuiabá, Natal, Manaus, Palmas e Teresina, apresentaram crescimento predominantemente horizontal. Esse modelo de expansão dispersa consome mais terras e recursos naturais, além de dificultar o acesso à infraestrutura e aos serviços públicos.

Para os pesquisadores, compreender esses padrões de crescimento é essencial para planejar políticas urbanas que otimizem a ocupação das cidades. “É possível pensar em formas de garantir acesso adequado à terra, oportunidades, serviços públicos e moradia, consumindo o mínimo de recursos e causando menos impacto ambiental e climático”, destaca Evers.

Relação entre Expansão Urbana e Crise Climática

O estudo também chama atenção para a conexão entre a dinâmica de expansão urbana e as questões climáticas. “Existe uma relação direta entre a forma como as cidades crescem e as agendas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, conclui Evers. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tornar as cidades mais resilientes são desafios urgentes que exigem planejamento estratégico e ações concretas.

Com base nesses achados, especialistas defendem a necessidade de políticas públicas que promovam cidades mais sustentáveis e equilibradas, priorizando o bem-estar da população e minimizando os impactos ambientais do crescimento urbano.

Fonte: Redação

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