As exportações brasileiras de sucata ferrosa, insumo essencial na produção de aço, registraram queda significativa em fevereiro. Foram comercializadas 57.775 toneladas, uma retração de 22% em relação às 74.099 toneladas exportadas no mesmo mês de 2024, segundo dados do Ministério da Economia, via Secex.
Nos primeiros dois meses deste ano, o volume total exportado foi de 117.099 toneladas, representando uma queda de 22,8% frente às 151.604 toneladas embarcadas no mesmo período do ano anterior. Em 2024, as exportações já haviam apresentado desaceleração, totalizando 690 mil toneladas, uma redução de 13,8% em comparação ao recorde de 800 mil toneladas alcançado em 2023.
Cenário de incertezas impacta setor
O presidente do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), Clineu Alvarenga, explica que o cenário é marcado por incertezas tanto no mercado interno quanto no externo. Entre os fatores que pressionam o setor estão o aumento das importações brasileiras de aço chinês – cujo processo de fabricação é considerado altamente poluente – e as novas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre o produto nacional.
Internamente, a demanda também não apresenta sinais de recuperação, evidenciando a desaceleração econômica. “A geração de sucata está diminuída, e as margens dos recicladores estão cada vez mais apertadas, deixando o setor apreensivo”, afirma Alvarenga.
Outro fenômeno raro observado recentemente foi a superação dos preços internos sobre os externos no início do ano, com ambos agora se equilibrando. Para o presidente do Inesfa, isso reflete um ajuste do Brasil a uma nova realidade no mercado global de sucata.
Esperança nas propostas legislativas
O setor aguarda com expectativa a aprovação de medidas que podem aliviar o ciclo da reciclagem. Um exemplo é o Projeto de Lei 1.800/2021, de autoria do deputado federal Domingos Sávio, que isenta recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados à indústria de transformação. O projeto, que já foi aprovado em todas as comissões da Câmara dos Deputados, deve ser analisado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado ainda em março, antes de seguir para sanção presidencial.
Além disso, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reciclagem, apresentada em 2024, também avança no Congresso. A iniciativa busca corrigir distorções tributárias que prejudicam os agentes do setor de reciclagem. Segundo Alvarenga, a PEC já conta com cerca de 60 assinaturas favoráveis e pode ganhar adesões adicionais neste ano. “Se aprovada, a PEC alinhará o Brasil aos países desenvolvidos, que há décadas incentivam a economia circular e o ciclo da reciclagem”, destaca.
Fórum Nacional de Economia Circular
O Inesfa participou no mês passado da primeira reunião do Fórum Nacional de Economia Circular, convocada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O órgão representa o segmento da reciclagem no fórum, que terá mais dois encontros antes da COP30, marcada para novembro em Belém (PA).
Durante o evento, o Inesfa destacou a importância da PEC da Reciclagem, que promete impactos positivos nos aspectos social, ambiental e econômico. “Aprovar essas propostas será fundamental para fortalecer o setor e demonstrar ao mundo, durante a COP30, o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e a economia circular”, concluiu Alvarenga.
Com a combinação de desafios atuais e esperanças em medidas legislativas, o setor busca alternativas para retomar o crescimento e consolidar sua posição estratégica na economia brasileira.