O setor da construção civil no Brasil vive um paradoxo: mesmo com o mercado aquecido por nichos como studios e imóveis de alto padrão, há um déficit preocupante de mão de obra qualificada. O cenário tem causado atrasos em cronogramas, impactado a qualidade das obras e desafiado a gestão de equipes.
Para Camila Palladino, arquiteta do escritório Palladino Arquitetura, a demanda por profissionais preparados é crescente. “É difícil encontrar trabalhadores com domínio técnico, leitura de projetos e responsabilidade. Faltam pedreiros, encanadores e mestres de obras atualizados”, afirma.
Ela destaca que o problema vai além do número reduzido de profissionais. A baixa qualificação técnica e o comprometimento insuficiente comprometem a execução de projetos em áreas como elétrica e hidráulica. A ausência de preparo para atender às exigências atuais prejudica diretamente a produtividade e a entrega final das obras.
Impactos na gestão e produtividade
Para Rafael Gregório Jaworski, diretor de Gente e Gestão do grupo Romitex, a escassez de mão de obra é um desafio estrutural e de longa data. “É um problema que afeta diversos setores, mas que se mostra crítico na construção civil”, ressalta.
Segundo ele, a falta de atratividade da carreira, os ciclos econômicos instáveis, as condições de trabalho adversas e a remuneração muitas vezes incompatível contribuem para o desinteresse dos profissionais. A falta de programas de capacitação contínua e a mudança no perfil dos trabalhadores — mais exigentes em relação a segurança, propósito e equilíbrio — também dificultam a formação de equipes coesas.
Investir em pessoas é o caminho
Apesar das dificuldades, Rafael acredita que empresas que investirem em gestão e valorização do capital humano terão vantagens competitivas. “A chave está em capacitar, valorizar e reter talentos. Programas internos de recrutamento, políticas salariais baseadas em meritocracia e ambientes de trabalho saudáveis são diferenciais importantes”, pontua.
Outras medidas recomendadas incluem:
- Parcerias com instituições de ensino técnico e superior;
- Capacitação contínua de equipes;
- Valorização de jovens talentos;
- Fortalecimento dos benefícios e reconhecimento por desempenho.
“O futuro da construção civil depende do investimento estratégico em pessoas. Somente assim será possível manter o crescimento com responsabilidade e qualidade”, finaliza Rafael.