Fortaleza – CE | quarta-feira 18 de junho de 2025 / 20:29

Inadimplência trava obras no Brasil e ameaça cronogramas e caixa de construtoras

Com mais de 6,5 milhões de empresas inadimplentes, setor de construção civil enfrenta atrasos bilionários, fluxo de caixa comprometido e riscos de paralisação de projetos

A inadimplência empresarial voltou a crescer no Brasil e tem provocado sérios impactos no setor de construção civil. Segundo levantamento recente, quase 7 milhões de empresas estão inadimplentes no país — um aumento de 4,5% entre 2023 e 2024. Isso representa 32% das empresas ativas em território nacional com pelo menos um débito em atraso.

O cenário se reflete diretamente nas obras: paralisações, descumprimento de cronogramas e elevação de custos se tornaram realidade nos canteiros. Dados do Índice Global de Recuperação de Crédito B2B (IGR), apurado pela empresa Global no início de 2024, mostram que a construção civil é o terceiro setor com maior volume de cobranças registradas (12% do total), atrás apenas de Bens de Consumo Não Duráveis (30%) e Alimentos e Bebidas (27%).

Efeito dominó afeta fluxo de caixa e desacelera obras
O impacto da inadimplência vai além das estatísticas. Estima-se que os atrasos em projetos já custaram ao setor R$ 59 bilhões entre 2023 e 2024, o que equivale a 8% dos investimentos previstos, segundo estudo da Delloite para a Fiesp.

Na prática, uma fatura não paga pode travar repasses, atrasar entregas e gerar um efeito cascata que afeta toda a cadeia. Construtoras veem seus caixas estrangulados e são obrigadas a recorrer a reservas ou a empréstimos emergenciais — em um momento de juros ainda elevados.

As incorporadoras, por sua vez, enfrentam atrasos nos pagamentos de parcelas por parte de compradores e nos repasses de financiamentos. Isso compromete o fluxo para pagar fornecedores e empreiteiras, muitas vezes levando à suspensão temporária de obras.

Pequenas empresas lideram lista de inadimplentes e agravam riscos
Entre os inadimplentes, cerca de 6,5 milhões são micro e pequenas empresas, revelando um risco relevante para obras menores e contratações pulverizadas. Em crises, muitos contratantes individuais ou pequenas firmas falham nos pagamentos, comprometendo ainda mais construtoras de porte médio ou pequeno.

Esse descompasso financeiro gera a necessidade de renegociações com fornecedores, posterga pagamentos e, em casos extremos, leva a pedidos de recuperação judicial.

O tempo é o maior inimigo na recuperação de créditos
Um dos dados mais alarmantes do IGR é a queda drástica na probabilidade de recuperação conforme o tempo de atraso aumenta. Nos primeiros 10 dias após o vencimento, até 98% das dívidas ainda podem ser recuperadas. Mas após 30 dias, essa taxa já despenca.

Entre 31 e 60 dias, setores como o têxtil recuperam apenas 56% dos créditos; e no lazer, 60%. Dívidas com mais de 180 dias têm apenas 20% de chance de recuperação. A razão é clara: agravamento da situação financeira, esquecimento do débito ou até falência da empresa devedora.

A lição é simples: quem cobra rápido, recebe mais.

Estratégias para reduzir inadimplência na construção
A primeira linha de defesa é o monitoramento contínuo da carteira de clientes e fornecedores. Isso inclui análise de crédito, identificação de protestos, alertas de atrasos e revisão de histórico financeiro.

Outra tática eficaz é a criação de uma régua de cobrança preventiva, com lembretes de vencimento e negociações amigáveis antes do inadimplemento. O contato ativo muitas vezes resolve o problema sem necessidade de medidas judiciais.

Quando o volume de inadimplência ultrapassa a capacidade da equipe interna, a terceirização da cobrança para empresas especializadas no segmento de construção pode ser a solução. Esses profissionais já conhecem as particularidades do setor e constroem estratégias personalizadas e mais eficazes.

Inteligência Artificial entra em cena para agilizar cobranças
A tecnologia também se tornou aliada importante. Muitas construtoras estão utilizando ferramentas de IA para automatizar o processo de cobrança, com envio automático de lembretes via e-mail, SMS ou WhatsApp — canal que hoje lidera com 51% dos acordos firmados em cobranças B2B.

Além disso, bots com IA generativa negociam com os devedores de forma personalizada, operando 24 horas por dia e em larga escala, com alto índice de sucesso.

Prevenir é construir: saúde financeira é alicerce de qualquer projeto
A inadimplência é mais do que um problema financeiro — é um fator que compromete a eficiência operacional, a confiabilidade do setor e a viabilidade de obras. Por isso, agir rápido, usar tecnologia e adotar boas práticas de crédito e cobrança são hoje tão essenciais quanto um bom projeto estrutural.

Cada fatura quitada no prazo é uma peça-chave para evitar paralisações, estouros de orçamento e perda de competitividade. Em tempos desafiadores, cuidar da saúde financeira é construir com solidez — e com visão de futuro.

Fonte: Redação

PUBLICIDADE