Os estados do Sul do Brasil estão intensificando os esforços para ampliar a malha ferroviária regional, com a proposta de construir mais de 3 mil quilômetros de novas linhas férreas. O objetivo é criar alternativas ao transporte rodoviário, predominante na logística nacional, e melhorar o escoamento de cargas a granel, madeira, minérios e contêineres até os portos da região.
Em Santa Catarina, o porto de Itapoá solicitou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a outorga para construção e operação de duas novas linhas férreas no norte do estado. Uma delas ligará Itapoá a Araquari, com 113 km de extensão, e a outra fará a conexão com Morretes (PR), em um trajeto de 83 km.
Com movimentação superior a 70 mil contêineres por mês e até 2 mil operações diárias com caminhões, o porto deverá ampliar significativamente sua capacidade após a dragagem do acesso à Baía da Babitonga. A intervenção permitirá a atracação de navios de até 366 metros, com ganho potencial de 60% na movimentação de contêineres.
“O porto possui linhas de navegação para todos os mercados do mundo, com destaque para China, Europa e Estados Unidos. Por isso, é importante a adequação de outros modais, aumentando a capacidade, segurança e previsibilidade logística”, avalia Ricardo Arten, CEO do Porto de Itapoá.
Outro projeto em andamento na região prevê a construção de uma linha férrea de 1.549 quilômetros entre Terra Roxa (PR) e Arroio do Sal (RS). A ligação é considerada estratégica, cruzando áreas próximas à fronteira com o Paraguai e ao estado do Mato Grosso do Sul até o litoral gaúcho, onde será construído um novo porto com investimento federal de R$ 1,3 bilhão.
A ferrovia foi proposta pela Doha Investimentos e Participações, com apoio de investidores russos, e terá concessão de 99 anos. O projeto ainda aguarda aprovação da ANTT e passará por estudos técnicos, econômicos e ambientais para definição do traçado e dos custos.
No Paraná, o governo estadual postergou para 2025 o leilão do projeto de expansão da Ferroeste, que terá um novo traçado de 1.567 quilômetros, ligando Maracaju (MS) ao porto de Paranaguá (PR), com ramais até Foz do Iguaçu, Cascavel e conexão com Chapecó (SC). A expectativa é que o projeto transforme a Nova Ferroeste no segundo maior corredor ferroviário de grãos e contêineres do país.
Atualmente, o Brasil possui cerca de 29 mil quilômetros de ferrovias, dos quais apenas 7 mil km estão em plena operação. Outros 13 mil km têm baixa densidade de tráfego, e 8 mil km estão subutilizados ou inativos. Em contraste, os Estados Unidos contam com 295 mil km de ferrovias e a Argentina, com 36,9 mil km.
No Sul, a Malha Sul totaliza 7 mil km, sendo que no Rio Grande do Sul há cerca de 3,3 mil km, com quase metade desativada. Santa Catarina possui 763 km de ferrovias ativas, mas trechos como a Ferrovia do Contestado estão sem operação desde os anos 2000.
A expectativa é que os novos projetos reduzam a quantidade de caminhões nas rodovias e desafoguem trechos críticos como a BR-101, entre o Paraná e Santa Catarina. Segundo o Plano Nacional de Logística (PNL), a rodovia está entre os principais gargalos do país e exige ações para redirecionamento de cargas para outros modais.
Só em janeiro de 2025, foram registradas 130 ocorrências com veículos de carga nas rodovias federais de Santa Catarina, sendo 61 apenas na BR-101. Além disso, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) removeu mais de 4,7 milhões de quilos de excesso de peso de circulação, reforçando os impactos negativos do transporte rodoviário excessivo sobre a infraestrutura viária e a segurança.