Fortaleza – CE | terça-feira 17 de junho de 2025 / 23:12

Falta de investimento em infraestrutura encarece o transporte de cargas no Brasil

Relatório do TCU aponta baixo investimento e ausência de planejamento estratégico, comprometendo a competitividade nacional

O transporte de cargas é uma peça-chave para o desenvolvimento econômico de qualquer país. No Brasil, entretanto, o setor enfrenta desafios estruturais que encarecem os custos logísticos e prejudicam a competitividade do mercado interno. De acordo com o Acórdão 2000/2024 do Tribunal de Contas da União (TCU), o país investe proporcionalmente menos da metade do que outras nações de renda média em infraestrutura de transportes, resultando em um sistema logístico ineficiente e caro.

Impactos Econômicos dos Baixos Investimentos

Os custos logísticos no Brasil equivalem, em média, a 13% do Produto Interno Bruto (PIB), totalizando R$ 1,3 trilhão em 2022. Para empresas, o transporte de cargas representa cerca de 64% dos gastos logísticos, enquanto o frete responde por 15% do preço final dos produtos industriais, conforme pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI 2022). Em comparação com países desenvolvidos, os custos brasileiros são quase o dobro, tornando o transporte doméstico oneroso tanto para empresas quanto para consumidores.

Priorização da Exportação e Desassistência ao Mercado Interno

Enquanto o escoamento de commodities para exportação recebe atenção prioritária, o transporte doméstico de cargas permanece negligenciado. Segundo Kauê Lunard Kawashita, auditor federal do TCU, “apenas dois terços (67%) das cargas transportadas no país são destinadas ao mercado interno, mas praticamente todas as políticas públicas estão voltadas para corredores de exportação”. Esse desequilíbrio evidencia uma lacuna no planejamento logístico nacional.

A subutilização do modal ferroviário agrava ainda mais o problema. Dados do TCU revelam que 36,3% da malha ferroviária brasileira não registram tráfego algum, e outros 22,76% operam com fluxo extremamente baixo. Apenas 12,66% da malha está em alta utilização. Como resultado, o transporte rodoviário assume a maior parte do transporte doméstico, sobrecarregando um sistema já comprometido por frotas antigas e rodovias em más condições.

Consequências Negativas para Economia e Meio Ambiente

A dependência excessiva do modal rodoviário gera uma série de impactos negativos. Além do aumento dos custos logísticos, há maior consumo de combustível, riscos elevados de acidentes, emissões crescentes de poluentes e saturação de trechos críticos. Maurício Ferreira Wanderley, diretor do TCU, destaca que “o esforço concentrado na redução dos custos logísticos da exportação deixa para o mercado interno toda a ineficiência que não conseguimos resolver”.

Falta de Planejamento Estratégico

Um dos principais problemas apontados pelo relatório é a ausência de diretrizes estratégicas claras para o setor logístico. O TCU identificou a falta de estudos e diagnósticos sobre os principais gargalos e corredores logísticos do país, além de uma escassez de informações estruturadas sobre o mercado doméstico de cargas. Essa lacuna compromete a formulação de políticas públicas eficientes e a integração entre diferentes modais de transporte.

Para André Luis Ferreira, diretor-executivo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), o Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050) deve priorizar o planejamento estratégico. Ele defende a necessidade de projetar a circulação futura de mercadorias para identificar gargalos e definir alternativas baseadas em critérios técnicos, considerando aspectos econômicos, sociais e ambientais. “Hoje, os projetos são decididos sem garantir que sejam as melhores alternativas”, alerta Ferreira.

Recomendações do TCU

O TCU concluiu que, sem medidas urgentes para corrigir as falhas identificadas, o Brasil continuará enfrentando entraves logísticos que comprometem seu desenvolvimento econômico e sustentável. As recomendações incluem maior transparência nos dados, adoção de diretrizes claras para o setor e implementação de uma governança mais eficiente na infraestrutura ferroviária. O objetivo é promover um sistema logístico equilibrado, que atenda tanto ao mercado interno quanto às demandas de exportação, fortalecendo a competitividade nacional.

Fonte: Redação

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