Fortaleza – CE | terça-feira 17 de junho de 2025 / 21:24

Infraestrutura ferroviária no Brasil: prioridade à exportação evidencia falhas no transporte doméstico

País investe menos da metade do que outras nações de renda média em logística, comprometendo competitividade e mercado interno

O transporte de cargas é um dos pilares dos sistemas logísticos empresariais, representando cerca de 64% dos custos logísticos no Brasil. No entanto, o país enfrenta sérias dificuldades estruturais nesse setor, conforme aponta o Acórdão 2000/2024 do Tribunal de Contas da União (TCU). O documento revela que o Brasil investe proporcionalmente menos da metade do que outros países de renda média em infraestrutura de transportes, impactando diretamente os custos logísticos e a competitividade econômica.

Altos custos e baixa eficiência

Em 2022, as despesas logísticas consumiram cerca de 13% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, totalizando R$ 1,3 trilhão. Para a indústria, o valor do frete corresponde, em média, a 15% do preço final dos produtos, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Esses custos são quase o dobro dos observados em nações desenvolvidas, refletindo a ineficiência do sistema logístico nacional.

Enquanto isso, o transporte ferroviário no Brasil está centrado majoritariamente nas operações de exportação, especialmente para commodities minerais e agrícolas. O auditor federal do TCU, Kauê Lunard Kawashita, destacou que “cargas domésticas representam dois terços de toda carga transportada no país, mas praticamente todas as políticas e investimentos estão voltados para corredores de exportação”. Essa disparidade evidencia uma lacuna crítica no planejamento logístico, prejudicando o mercado interno.

Subutilização das ferrovias

O relatório do TCU aponta ainda que grande parte da malha ferroviária brasileira está subutilizada ou operando com fluxo mínimo. Dados mostram que 36,3% das ferrovias não registram tráfego algum, enquanto 22,76% transportam menos de um par de trens por dia. Apenas 12,66% da malha apresenta alta utilização.

Essa dependência excessiva do modal rodoviário para o transporte doméstico agrava os problemas logísticos. A sobrecarga nas rodovias, muitas delas em condições precárias, resulta em aumento dos custos, maior consumo de combustível, riscos elevados de acidentes, emissões excessivas de poluentes e saturação de trechos críticos.

Falta de planejamento estratégico

Outro ponto destacado pelo Acórdão é a ausência de diretrizes claras e transparência no planejamento logístico. Faltam estudos detalhados que identifiquem gargalos e orientem investimentos em infraestrutura. Segundo Keyla Araújo Boaventura, titular da Secretaria de Controle Externo de Infraestrutura do TCU, “o diagnóstico evidenciou entraves como o alto custo logístico e a falta de integração entre diferentes planos, comprometendo a competitividade do Brasil no cenário internacional”.

Para André Luis Ferreira, diretor-executivo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), é urgente institucionalizar o processo decisório no setor. Ele sugere projetar a circulação futura de mercadorias para identificar gargalos e priorizar alternativas que tragam benefícios econômicos, sociais e ambientais. “Hoje, os projetos são definidos sem garantir que sejam as melhores alternativas”, afirmou.

Perspectivas e recomendações

O TCU recomenda que os achados do Acórdão sirvam como base para reformular políticas públicas no setor. Entre as medidas sugeridas estão a adoção de critérios técnicos para priorizar investimentos, maior transparência nos dados e uma governança mais eficiente.

Sem correções urgentes, o Brasil continuará enfrentando desafios logísticos que comprometem seu desenvolvimento econômico e ambiental. O Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050) surge como uma oportunidade para reverter esse cenário, promovendo uma infraestrutura mais equilibrada e eficiente tanto para o mercado doméstico quanto para as exportações.

Fonte: Redação

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