Após um início de ano positivo, as vendas de cimento apresentaram retração em abril de 2025. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), foram comercializadas 5,2 milhões de toneladas no mês, representando uma queda de 3,0% em comparação ao mesmo período do ano passado.
No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, porém, o desempenho segue positivo, com alta de 4,2%. Já o volume vendido por dia útil foi de 236,8 mil toneladas, o que indica uma redução de 4,1% frente a março, mas uma alta de 5,8% em relação a abril de 2024. De janeiro a abril, o crescimento acumulado por dia útil foi de 6,5%.
Mercado aquecido e confiança do consumidor
O crescimento no acumulado é impulsionado pelo aquecimento do mercado de trabalho e da renda, com os salários atingindo o maior patamar desde 2012. A confiança do consumidor também subiu pelo segundo mês consecutivo, influenciada por expectativas econômicas mais favoráveis.
Apesar da queda nos lançamentos imobiliários no primeiro bimestre de 2025 em comparação com 2024, o consumo de cimento ainda é sustentado por obras iniciadas anteriormente. A expansão do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), que passou a contemplar famílias com renda de até R$ 12 mil, deve ajudar a manter a demanda aquecida.
Desafios no horizonte
O setor enfrenta, no entanto, um cenário de incertezas. A alta taxa básica de juros, somada ao endividamento e inadimplência das famílias, pressiona negativamente o setor da construção. Em abril, a confiança na construção caiu ao menor nível desde março de 2022.
Outros fatores preocupantes incluem a falta de mão de obra qualificada e a redução dos estoques imobiliários, causada pelo aumento das vendas e queda dos lançamentos. A indústria em geral também compartilha essa visão pessimista, diante do ciclo de alta da Selic e da expectativa de desaceleração econômica no segundo semestre.
Oportunidades com infraestrutura e sustentabilidade
Ainda assim, o setor de cimento mantém um otimismo moderado, sustentado por investimentos em infraestrutura e habitação. Uma das apostas é o uso do cimento em pavimentos de concreto para ruas e rodovias, alternativa mais durável e econômica que o asfalto tradicional, além de menos poluente.
Outro fator relevante é o desenvolvimento do Plano Clima, iniciativa do governo federal que estabelecerá metas de descarbonização para diversos setores, incluindo a indústria de cimento. O plano deve ser apresentado até a COP30, em novembro, após passar por consulta pública.
Eventos setoriais e perspectivas
O setor terá espaço para discutir as principais inovações tecnológicas no 9º Congresso Brasileiro de Cimento e na ExpoCimento, de 30 de junho a 2 de julho de 2025, em São Paulo. O evento contará com mais de 100 palestras e ampla exposição de fornecedores da construção civil.
Segundo Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC, a criação da Faixa 4 do MCMV, voltada para famílias de classe média, pode ampliar ainda mais a demanda. “Desde sua retomada, o MCMV se mostrou bem-sucedido com a meta de entregar 2 milhões de unidades em quatro anos, o que resultará em um acréscimo de 10 milhões de toneladas de cimento nesse período”, destacou.