Como o mercado imobiliário reagiu à manutenção da Selic a 13,75%
Empresas do setor se esforçam para buscar novas alternativas para não perder oportunidades de negócio no cenário atual
O mercado imobiliário brasileiro já desenvolveu um grande know-how para sobreviver à montanha-russa da economia do país. Na atual era dos juros altos, havia no setor uma expectativa por redução, é claro, mas a não concretização da queda esteve longe de representar uma tragédia. Como se sabe, foi mantida a Selic a 13,75%. Na sequência, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada no último dia 27 sinalizou que a maioria dos integrantes atuais do órgão, incluindo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, podem baixar um pouco a guarda dos juros caso a inflação continue dando sinais de desaceleração. Ocorrerá uma nova reunião em agosto. Mesmo se for materializada a disposição com o início de um período de cortes, a redução deve ser lenta. Talvez menos 0,25% em agosto ou setembro. Ou seja, nada que vá mudar radicalmente a curto prazo o cenário atual, um tanto quanto adverso.
O que fazer diante de tal situação desfavorável? Haja criatividade para atrair os clientes e fechar as vendas. Algumas instituições financeiras como o Santander oferecem atualmente a opção de dar o carro como pagamento na compra do imóvel, sendo ele novo ou usado. As incorporadoras pegaram o vácuo da ideia e, em uma parceria com instituições financeiras, ofereceram essa mesma possibilidade aos seus clientes. A Helbor embalou a oferta em uma ação de marketing chamada de “Só a Helbor tem – turbo”, na qual o comprador escolhe entre utilizar o valor do seu automóvel como parcela de entrada ou como abatimento no financiamento.
São ações criativas como essa que ajudam o mercado a não sofrer de forma demasiada com a era dos juros altos. É claro que a situação acaba impactando a dinâmica de negócios, com muitas construtoras puxando o freio de mão em sua política de lançamentos de produtos. Mas vale lembrar que não é de hoje que o setor convive com uma Selic indigesta. O cenário já era desfavorável em 2021 e 2022 e, mesmo assim, foram batidos recordes de vendas. Para este ano, prudentemente, boa parte do setor começou a trabalhar desde janeiro com a perspectiva de que uma redução da Selic só ocorreria no segundo semestre, uma previsão que deve se confirmar.
A exemplo do que ocorre em outros setores da economia, os financiamentos do mercado imobiliário são atrelados ao comportamento da Selic. Em geral, o crédito para a compra de imóveis fica em média dois pontos abaixo dessa taxa de referência (a exceção ocorre quando a Selic está quase no chão). Assim, a taxa atual de financiamento imobiliário no país gira em torno de 11%. Entre 2021 e 2022, o número variou entre 7,9% e 9,33%.
Em um cenário com a Selic mais baixa (e que ele se materialize logo!), não apenas os compradores se beneficiam. Num ciclo virtuoso, incorporadoras e construtoras também lucram com isso, pois os custos de obra e os do desenvolvimento de empreendimentos podem ser mais baixos, já que os empréstimos são mais facilitados para que as empresas tenham mais capital e possam desenvolver os projetos.
Mas a taxa Selic alta não pode ser vista como um impeditivo para fazer um financiamento imobiliário. Com juros mais altos, é comum que haja uma oferta maior de imóveis, podendo ser o momento certo de investir. Além disso, o cliente pode tirar proveito da maior competitividade entre as instituições financeiras, fazendo a portabilidade de seu contrato para o banco que oferecer no momento as melhores condições.
De qualquer maneira, com a Selic baixa ou não, tudo é uma questão de planejamento. O ideal é sempre conversar com um especialista na área avaliar a sua taxa pessoal de crédito, o quanto a instituição bancária poderá ceder, fazer uma simulação dos valores das parcelas e o tempo que precisará para pagá-las ou amortizá-las e, assim, seguir com o negócio em condições ideais, sem comprometimento da renda.